Dr. M. Mattedi
Universidade Regional de Blumenau
A COVID-19 atingiu a universidade como um raio. Afinal, induziu uma profunda reestruturação das operações acadêmicas. Depois de incerteza inicial, as universidades migraram rapidamente para o ensinar on-line. Neste sentido, realizaram em poucas semanas um experimento institucional que muitos analistas acreditavam que levaria anos. Assim, enquanto a passagem da COVID-19 obrigou a maior parte das atividades a apertarem o botão de pausa; para as universidades, contudo, implicou a apertar o botão de reset. Portanto, o pior deste contexto não é o que está acontecendo; mas, sobretudo, não saber a direção para onde estamos nos movendo.
Por isto, o certo é apenas que o processo de reinicialização será longo, difícil e conflituoso. Afinal, passagem da COVID-19 lança uma longa sombra sobre o padrão predominante de formação superior. O longo processo de isolamento social associado a adoção de modalidades online tem efeitos acadêmicos imprevisíveis. Neste sentido, a relação entre diminuição da intensidade das interações sociais diretas com a necessidade de flexibilização organizacional afeta profundamente o que as universidades fazem, porque fazem e, sobretudo, como fazem. Portanto, para entender a universidade Pós-COVID-19 é preciso considerar o efeito combinado de duas crises:
a) Crise Conjuntural: a sustentabilidade financeira. No curto prazo as universidades sofrerão o impacto da diminuição da demanda por formação superior. Por um lado, diante da queda da renda e das incertezas econômicas é inevitável uma diminuição das matrículas; mas também, por outro, a crise fiscal achata ou diminui os gastos públicos na formação superior. Este processo implica uma brusca diminuição de recursos num período de tempo extremamente curto. Isto significa que as universidades não tiveram tempo para se ajustar e provavelmente precisarão reestruturar rapidamente suas operações.
b) Crise Estrutural: a migração para as modalidades online. No longo prazo as universidades sofrerão o impacto da reestruturação das atividades de formação. Afinal, a mudança para modalidades online não implica somente a replicação das formas tradicionais de aprendizado. Neste sentido, a universidade se tornou um experimento global com uma ampla variedade de modalidades sendo testadas com uma eficácia e qualidade muito variada. Devido a generalização dos “EduTools” algumas atividades acadêmicas nunca mais retornarão ao padrão presencial existente anteriormente.
Consequentemente, as universidades encontram-se submetidas a uma incompatibilidade dinâmica entre meios e fins. Afinal, precisam urgentemente investir em tecnologias para readequar as modalidades de ensino, porém atravessam uma conjuntura de diminuição progressiva de recursos. Neste sentido, modelos financeiros antiquados, estratégias de gestão burocratizadas e procedimentos acadêmicos rígidos colocam a universidade sob forte pressão institucional. Assim, a aceleração da implementação e aceitação do ensino e aprendizagem remotos enfraquecem o papel dos acadêmicos tradicionais e, inversamente, fortalece o papel dos “designers de aprendizagem".
a) Curto Prazo: processo de adaptação organizacional. A replicação do modelo presencial por meio mediação tecnológica é insustentável. Este processo pressupõe a reinvenção dos modelos de aprendizado presencial. Neste sentido, pressupõe, simultaneamente, desenvolvimento de material específico e requalificação dos professores para atividades online. Este processo de adaptação organizacional é bastante assimétrico. Pois, enquanto algumas instituições já estavam trabalhando no desenvolvimento de abordagens online ou mista, para outras, isso é completamente novo.
c) Longo Prazo: processo de reestruturação institucional. No contexto Pré-COVID-19 já havia uma demanda crescente do mercado de trabalho em nível global por formas mais flexíveis e combinadas de aprendizado contínuo voltada para a economia digital. Este processo passa tanto pela busca por microcredenciais do treinamento online de aquisição de habilidades específicas, quanto habilidade profundas por meio da internacionalização em casa. Este processo implica eliminação de tarefas e precarização da atividade docente. O que está em jogo é a capacidade da universidade de monopólico de certificação.
Este processo leva, ao mesmo tempo, a intensificação da concentração e internacionalização da formação superior. Por baixo este processo provoca a fusão ou em últimos casos eliminação das pequenas instituições localizadas sem capacidade de competir (atrair novos alunos); por cima impulsiona o processo de internacionalização com a formação a distância (customizar a formação). Por um lado, o controle e a regulamentação exercidos pelo estado; por outro, a limitação artificial da expansão de cursos on-line dos lugares de maior prestígio. Uma vez removidas estas barreiras os estudantes irão buscar formações em todos os lugares do mundo.
A pandemia do COVID-19 mudou a universidade para sempre. As atividades presenciais continuarão a ser muito importantes na universidade Pós-COVID-19. Porém, não serão destinadas as aulas, mas, sobretudo, construção de conhecimento, relacionamentos com os professores e formação de redes profissionais. Este processo afeta não somente a relação pedagógica, mas também a socialização acadêmica e a própria estrutura física dos campi. Ou seja, os alunos e professores continuarão indo para a universidade, mas não para fazer as mesmas coisas. Portanto, por mais doloroso e estressante que seja esse período é bem vindo para universidade.
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