Dr M. Mattedi
Universidade Regional de Blumenau
A passagem da COVID-19 foi uma grande experimentação para universidades. A maior parte das universidades migraram facilmente para o modelo de ensino online. Este modelo permitiu não somente manter as atividades de ensino e pesquisa ativas; mas, sobretudo, flexibilizar as formas de ensinar e aprender. Porém, a velocidade com que essa mudança se estabeleceu é, ao mesmo tempo, sem precedentes e também impressionante. Assim, a questão do aprendizado online ou mediado tecnologicamente será, inevitavelmente, politizada. Afinal, o aprendizado online traz um estigma de qualidade inferior ao aprendizado presencial.
Neste sentido, a segunda rodada pesquisa a FURB e o Distanciamento Social realizada pelo NET-dr apresenta dados interessantes. A pesquisa faz parte do ciclo produção desenvolvidas pelo NET-dr sobre os efeitos emergentes da COVID-19 em geral e do Distanciamento Social em particular. Foi realizada entre os dias 04/05 e 11/05 e foram obtidas 619 respostas. Quando se relacionam estes dados com a pesquisa realizada entre 13/04 e 18/04 é possível identificar tendências com maior nitidez. Estes dados precisam ser explorados porque informam sobre como a Dinâmica de Distanciamento Social se materializa dentro da comunidade acadêmica da FURB.
Este processo diz respeito a questão da adaptação ao modelo on-line apontada pelo Dr Spiess. Como a mudança para modalidade de aulas remotas foi abrupta e sem planejamento exigiu um alto esforço e adaptação. Esta mudança atingiu as duas pontas do processo: a) Professores: exigiu um empenho constante para a manutenção da atenção o que envolveu a mudança das estratégias pedagógicas; b) Alunos: o ajuste das rotinas domésticas e o desenvolvimento de mecanismos de disciplina. A pesquisa revela, portanto, que curva de adaptação foi curta às aulas mediadas tecnologicamente e existe grande potencial de aprendizado que deve ser aproveitado institucionalmente.
Por exemplo, a Figura 1 aponta consistência neste processo. A Figura 1 trata do processo de adaptação dos alunos as modalidades de aulas online. Neste aspecto é significativo observar que a medida que o tempo passa vai aumentando entre os alunos o grau de adaptação. Ou seja, a subida dos níveis 8 e 9 estão relacionadas a descida dos níveis 6 e 7. Portanto, assim, a relação entre as duas pesquisas indica que os alunos se encontram majoritariamente adaptados a mediação tecnológica do processo de aprendizado. Neste sentido, a questão aqui é saber porque apesar do alto grau de improviso a transição foi bem-sucedida?
Figura 1: adaptação as aulas remotas
A explicação para este processo está relacionada a fatores gerais relativas ao crescente processo de Informatização da Sociedade. O processo de Informatização da Sociedade diz respeito as consequências desencadeadas pela disseminação da internet nas atividades cotidianas. Este processo está relacionado a queda dos preços, aumento do processamento e diminuição de tamanho dos dispositivos computacionais. O efeito combinado deste processo foi a massificação da computação na vida das pessoas. Portanto, a transição se estabeleceu sem muitos solavancos porque já existia uma Capital Técnico incubado na sociedade.
Ou seja, indica que a sociedade já estava informatizada. Dito de outra forma, acesso os serviços bancários, as compras e o consumo de produtos culturais, a mediação afetiva e o monitoramento das atividades domésticas, tudo é feito computacionalmente. Todas atividades cotidianas já vinham sendo feitas por meio de recursos online. Existia um aprendizado social latente adquirido com o crescente processo de massificação da internet e do uso das mídias sócias. Além disso, não podemos esquecer o uso intenso dos celulares nas aulas presenciais. Assim, para os Nativos Digitais a migração não significou uma mudança muito profunda.
A transição para as modalidades online é irreversível. Afinal, a rapidez da migração indica que ultrapassamos socialmente o ponto de retorno. O que está em jogo é, fundamentalmente, a forma como sito será feito. Neste sentido, impõe uma revisão radical das maneiras de oferecer as disciplinas de graduação. Trata-se de uma mudança que veio para ficar. Então é necessário se adaptar a mudança. E quem não se adaptar certamente irá desaparecer. Isto significa que a relevância social e, consequentemente, a sobrevivência institucional da FURB vai depender muito da capacidade de manter a curva de aprendizado ascendente.
Disto, porém, não se pode concluir linearmente que as aulas presenciais não têm mais importância. Afinal, apesar de altamente adaptados a mediação tecnológica do aprendizado a pesquisa NET-dr revela também que os alunos sentem muita falta das aulas presenciais. Mais precisamente, a falta das aulas presenciais subiu de 58,47% na primeira rodada, para 68,71% na segunda rodada como indica a Figura 2. A adaptação sobre junto com a falta das aulas presenciais. Quanto maior a adaptação a modalidade online, mais os alunos sentem falta das aulas presenciais. Isto indica, portanto, que a mediação direta professor-aluno continua sendo muito importante.
Figura 2: falta das aulas presenciais
A ambivalência dos destes dados não pode nos enganar. Afinal, escondem dois fenômenos que não podem ser ignorados. O primeiro deles diz respeito ao que deve ser entender falta das aulas presenciais. Certamente, não se trata aqui do modelo tradicional de aulas presenciais, mas das interações sociais diretas que a rotina de aulas possibilita. O segundo aponta para o estabelecimento do modelo de Blended Leaning onde a maior parte dos conteúdos é transmitido em cursos a distância. O modelo hibrido não exclui, obviamente, os momentos de aprendizado presenciais, porém a maior parte das atividades de formação são feitas a distância.
Portanto, a pesquisa realizada pelo NET-dr revela que COVID-19 acelerou o futuro. Talvez melhor seria dizer que libertou a FURB do passado. Porém, as forças da desmobilização são fortes e as barreiras burocráticas grandes. Neste sentido, a transição para o ensino online nessas circunstâncias implica em tirar o máximo proveito dos recursos e possibilidades do formato. Devemos considerar a oportunidade de estabelecer formas de aprendizado distribuído no qual o instrutor, os alunos e o conteúdo sejam localizados em espaços diferentes e não centralizados. Afinal, precisamos, manter a curva de aprendizado institucional ascendente.
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