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  • 22 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

Dr. M. Mattedi

Universidade Regional de Blumenau


A COVID-19 atingiu a universidade como um raio. Afinal, induziu uma profunda reestruturação das operações acadêmicas. Depois de incerteza inicial, as universidades migraram rapidamente para o ensinar on-line. Neste sentido, realizaram em poucas semanas um experimento institucional que muitos analistas acreditavam que levaria anos. Assim, enquanto a passagem da COVID-19 obrigou a maior parte das atividades a apertarem o botão de pausa; para as universidades, contudo, implicou a apertar o botão de reset. Portanto, o pior deste contexto não é o que está acontecendo; mas, sobretudo, não saber a direção para onde estamos nos movendo.


Por isto, o certo é apenas que o processo de reinicialização será longo, difícil e conflituoso. Afinal, passagem da COVID-19 lança uma longa sombra sobre o padrão predominante de formação superior. O longo processo de isolamento social associado a adoção de modalidades online tem efeitos acadêmicos imprevisíveis. Neste sentido, a relação entre diminuição da intensidade das interações sociais diretas com a necessidade de flexibilização organizacional afeta profundamente o que as universidades fazem, porque fazem e, sobretudo, como fazem. Portanto, para entender a universidade Pós-COVID-19 é preciso considerar o efeito combinado de duas crises:


a) Crise Conjuntural: a sustentabilidade financeira. No curto prazo as universidades sofrerão o impacto da diminuição da demanda por formação superior. Por um lado, diante da queda da renda e das incertezas econômicas é inevitável uma diminuição das matrículas; mas também, por outro, a crise fiscal achata ou diminui os gastos públicos na formação superior. Este processo implica uma brusca diminuição de recursos num período de tempo extremamente curto. Isto significa que as universidades não tiveram tempo para se ajustar e provavelmente precisarão reestruturar rapidamente suas operações.


b) Crise Estrutural: a migração para as modalidades online. No longo prazo as universidades sofrerão o impacto da reestruturação das atividades de formação. Afinal, a mudança para modalidades online não implica somente a replicação das formas tradicionais de aprendizado. Neste sentido, a universidade se tornou um experimento global com uma ampla variedade de modalidades sendo testadas com uma eficácia e qualidade muito variada. Devido a generalização dos “EduTools” algumas atividades acadêmicas nunca mais retornarão ao padrão presencial existente anteriormente.


Consequentemente, as universidades encontram-se submetidas a uma incompatibilidade dinâmica entre meios e fins. Afinal, precisam urgentemente investir em tecnologias para readequar as modalidades de ensino, porém atravessam uma conjuntura de diminuição progressiva de recursos. Neste sentido, modelos financeiros antiquados, estratégias de gestão burocratizadas e procedimentos acadêmicos rígidos colocam a universidade sob forte pressão institucional. Assim, a aceleração da implementação e aceitação do ensino e aprendizagem remotos enfraquecem o papel dos acadêmicos tradicionais e, inversamente, fortalece o papel dos “designers de aprendizagem".


a) Curto Prazo: processo de adaptação organizacional. A replicação do modelo presencial por meio mediação tecnológica é insustentável. Este processo pressupõe a reinvenção dos modelos de aprendizado presencial. Neste sentido, pressupõe, simultaneamente, desenvolvimento de material específico e requalificação dos professores para atividades online. Este processo de adaptação organizacional é bastante assimétrico. Pois, enquanto algumas instituições já estavam trabalhando no desenvolvimento de abordagens online ou mista, para outras, isso é completamente novo.

c) Longo Prazo: processo de reestruturação institucional. No contexto Pré-COVID-19 já havia uma demanda crescente do mercado de trabalho em nível global por formas mais flexíveis e combinadas de aprendizado contínuo voltada para a economia digital. Este processo passa tanto pela busca por microcredenciais do treinamento online de aquisição de habilidades específicas, quanto habilidade profundas por meio da internacionalização em casa. Este processo implica eliminação de tarefas e precarização da atividade docente. O que está em jogo é a capacidade da universidade de monopólico de certificação.


Este processo leva, ao mesmo tempo, a intensificação da concentração e internacionalização da formação superior. Por baixo este processo provoca a fusão ou em últimos casos eliminação das pequenas instituições localizadas sem capacidade de competir (atrair novos alunos); por cima impulsiona o processo de internacionalização com a formação a distância (customizar a formação). Por um lado, o controle e a regulamentação exercidos pelo estado; por outro, a limitação artificial da expansão de cursos on-line dos lugares de maior prestígio. Uma vez removidas estas barreiras os estudantes irão buscar formações em todos os lugares do mundo.



A pandemia do COVID-19 mudou a universidade para sempre. As atividades presenciais continuarão a ser muito importantes na universidade Pós-COVID-19. Porém, não serão destinadas as aulas, mas, sobretudo, construção de conhecimento, relacionamentos com os professores e formação de redes profissionais. Este processo afeta não somente a relação pedagógica, mas também a socialização acadêmica e a própria estrutura física dos campi. Ou seja, os alunos e professores continuarão indo para a universidade, mas não para fazer as mesmas coisas. Portanto, por mais doloroso e estressante que seja esse período é bem vindo para universidade.

Atualizado: 17 de jun. de 2020

No infográfico você poderá acompanhar a evolução dos casos confirmados, por data de início dos sintomas, de 28/02 até 15/06. São exibidas as 25 cidades com maior número de casos.


  • 11 de jun. de 2020
  • 4 min de leitura

Dr M. Mattedi

Universidade Regional de Blumenau


Mesmo assistindo o aumento do contágio pelo coronavírus, iniciou-se em todo Brasil retorno das atividades educacionais. Este processo é condicionado por dois fatores que se encontram relacionados: a) não é possível retomar as atividades econômicas sem retomar as atividades educacionais; b) a manutenção do isolamento pode acabar comprometendo o ano letivo. Assim, a retomada parece precoce, pois o momento atual exigiria, inversamente, mais rigor no Distanciamento Social. Porém, atualmente não existem condições políticas de implementar medidas de proteção social mais amplas que garantam o isolamento da população.


As atividades educacionais foram as primeiras a serem desativadas. Isto aconteceu, por um lado, porque as atividades educacionais são intensivas em contato direto; por outro, porque, frequentemente, são efetuadas em ambientes fechados. Afinal, alunos e professores são vetores diretos de contágio (transportam vírus de casa para sala de aula e da sala de aula para casa); mas também porque são organizações mais simples de serem desativadas (não constituem atividades essenciais). Como aconteceu em outras atividades é bem possível que a retomada das atividades educacionais acabe intensificando o aumento de contágio.


Isto acontece porque a retomada das aulas presenciais aumenta a frequência de relações sócias diretas. Afinal, implica, simultaneamente, ocupação de espaços fechados e também da formação de aglomerações. Além disso, a maioria dos ambientes educacionais não foram pensados para situações de Distanciamento Social. Assim, significa que se deve considerar a possibilidade de desencadear novos ciclos de transmissão comunitária do Coronavírus. Este processo implica novos fechamentos temporários do campus. Neste sentido, a questão principal da Abertura do Campus é como evitar que alunos e professores se tornem vetores de transmissão da COVID-19.


A resposta tem sido o estabelecimento de protocolos de segurança. Isto implica criar condições para ensinar e aprender e, consequentemente, trabalhar da maneira mais segura. A COVID-19 é um novo fator de risco que deve ser incorporado nas avaliações de risco no local dos ambientes de trabalho. Como parte do processo de abertura é necessário produzir avaliações de risco para os ambientes de estudo e comunitário. Assim, pressupõe compartilhar a avaliação de risco com os alunos e professores e considerar publicar a avaliação de risco em seu site. Afinal, as universidades não podem perder a confiança dos alunos e das famílias. Entre as principais medidas destacam-se:


a) Uso obrigatório de máscaras nas dependências da universidade;

b) Horários diferentes para entrada e saída dos alunos;

c) Horários diferenciados para o lanche;

d) Aferição da temperatura dos estudantes ao entrar na escola;

e) Desinfecção dos calçados e mochilas;

f) Distanciamento entre os estudantes dentro e fora da sala de aula;

g) Sinalização de rotas para que os alunos mantenham distância entre si;

h) Manutenção do ensino híbrido.


Estes protocolos são longos e vão acabar modificando profundamente o ambiente acadêmico. Por isto, não se pode chamar a Abertura do Campus de retorno. As experiências prévias de outros países e a literatura científica especializada apontam que o retorno às atividades presenciais não será como a volta de um recesso tradicional. Isto significa que o ambiente acadêmico será completamente modificado pelos protocolos de segurança. E, sobretudo, os protocolos de segurança afetarão a forma convencional de aprender conjuntamente. Afinal, até que não chegar a imunização seremos obrigados a conviver com o risco.


Neste sentido, com a FURB a situação não é muito diferente. Afinal, as universidades se transformaram num ambiente de risco. Por isto, será necessário o estabelecimento de comitês internos de monitoramento em tempo real nas universidades. Quando retornarmos às salas de aula e aos campi, não retornaremos aos padrões de relacionamento familiares. Portanto, o cuidado e a atenção constante modificarão profundamente as atividades acadêmicas e a forma como o conhecimento é produzido, transmitido e repassado. Este processo pressupõe a consideração de dois fenômenos principais: a) a Recessão Social; b) a Fadiga Digital.


a) Recessão Social: a longa duração do Distanciamento Social tem efeitos profundos sobre a dinâmica em sala de aula. Afinal, depois de mais de três meses sem contatos diretos os alunos e professores pode causar sequelas de longo prazo na dinâmica acadêmica. Neste sentido, a sala de aula pode ser converter no espaço social no qual se materializem-se o medo de infeção, as incertezas financeiras, a falta de informação e ambiente doméstico tóxico. Por isto, é importante evitar que as atividades presenciais em sala aula se tornem mais um fator estressor para alunos e professores.


b) Fadiga Digital: refere-se as patologias cognitivas, emocionais e sociais desencadeadas pelo uso excessivo de plataformas on-line. Embora alguns dos campi estejam fisicamente fechados, o processo de formação continuou em andamento. Além, dos fatores negativos já conhecidos, a Fadiga Digital pode acabar saturando a capacidade de aprendizado dos alunos e a motivação dos professores. Mas estes são apenas a ponta do iceberg de um conjunto profundo de mudanças sociais. Portanto, a Fadiga Digital pode se tornar um obstáculo para as políticas de retomada das atividades educacionais.


A relação entre a Recessão Social e da Fadiga Digital pode provocar efeitos perversos. As diversas crises em curso devem afetar a saúde mental dos alunos e dos profissionais da Educação, ainda que em diferentes formas e graus. Em situações extremas tendem a provocar o aumento da ansiedade e de dificuldades de concentração. Este processo pode gerar dificuldades convivência escolar no retorno às aulas como, por exemplo, aumento de conflitos entre os professores e comportamentos agressivos entre os alunos. Portanto, a mescla de atividades presenciais e mediadas por tecnologia pode, ao mesmo tempo, criar o pior dos mundos: desmotivar professores e alunos.


Figura 1: contexto de abertura dos campi


Mas, ao mesmo tempo, apesar dos desafios e incertezas, as universidades podem servir de experimentação para o processo de abertura. Este processo envolve a consideração de dois conjuntos de fatores: a) Emocional: criação mecanismo de acolhimento de alunos em situação de stress (ação intersetorial); b) Financeira: a criação de um fundo de ajuda para estudantes por meio de doações (isto pressupõe uma boa campanha de marketing para sensibilizar os ex-alunos); c) Treinamento: o estabelecimento de treinamento de segurança obrigatório sobre o convívio durante a COVID-19. Este processo incluiu e deverá continuando a incluir contribuições de vários grupos.


Portanto, a Abertura do Campus não será uma retomada de quando foi fechado. Afinal, o campus se parecerá mais com um hospital que com uma universidade. Por isto, o retorno das atividades acadêmicas exigirá um plano de ações em diversas frentes. Este processo implicará uma articulação intersetorial intensa e uma contextualização regional precisa. Neste sentido, se o Fechamento do Campus aconteceu sem grandes implicações institucionais, a Abertura do Campus exigirá atenção redobrada. Trata-se, portanto, de mudanças que exigirão muito trabalho, criatividade e recursos. Afinal, é importante lembrar que as universidades estão sempre mudando.



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