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Dra. Maria Rossi


O recente lançamento do GeoRisk, sistema desenvolvido pelo Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), promete um avanço na previsão de deslizamentos no Brasil. Com alertas emitidos com até 72 horas de antecedência, o sistema tem o potencial de salvar vidas e minimizar impactos. Mas como essa ferramenta será realmente utilizada na prática? Ela resolverá os desafios enfrentados pelas comunidades que vivem em áreas de risco?


Perguntas essenciais e possíveis respostas


Como será a implementação do GeoRisk em áreas de alto risco já ocupadas?

O sistema prevê deslizamentos, mas não define o que deve ser feito quando um risco iminente for identificado. A recomendação será evacuação temporária ou reassentamento definitivo? Quem será responsável por essa decisão?


Qual o papel dos municípios e da Defesa Civil?

A notícia destaca que o sucesso do GeoRisk depende do compartilhamento de informações municipais. Mas quais informações exatamente? Apenas registros de desastres passados ou também dados sobre ocupações irregulares e infraestrutura? Como garantir que as prefeituras estejam preparadas para agir diante dos alertas?


O que será feito para proteger quem já vive nessas áreas?

O sistema alerta, mas quem executa a resposta? Há planejamento para realocação de famílias, programas habitacionais dignos e infraestrutura adequada para reassentamento? Como garantir que essas remoções sejam feitas de forma justa e sem prejuízo à comunidade?


Para refletir: a tecnologia é suficiente?

O GeoRisk é um grande avanço em termos tecnológicos, mas previsões não bastam se não houver estratégias concretas para agir diante delas. Um alerta não resolve o problema por si só: é preciso um plano de gestão de risco que envolva realocação segura, investimentos em infraestrutura e políticas públicas bem estruturadas.

Além disso, a implementação do sistema exige uma articulação eficaz entre governo federal, estados e municípios. Sem essa cooperação, o GeoRisk corre o risco de se tornar apenas um sistema de aviso, sem impacto real na proteção da população vulnerável.


Em síntese: como transformar previsões em ações?


Para que o GeoRisk seja mais do que um instrumento tecnológico, é essencial que ele esteja integrado a políticas públicas eficientes. Prever um desastre é importante, mas sem planejamento adequado, continuaremos lidando com tragédias anunciadas.

A pergunta que fica é: estamos preparados para transformar esses alertas em ações concretas ou apenas adicionamos mais um sistema de monitoramento à lista de iniciativas que falham na hora da execução?

Geocracia (2025)
Geocracia (2025)

 

Referência


GEOCRACIA. GeoRisk: Mais uma tecnologia ou solução definitiva para deslizamentos de terra? Publicado em 25 de fevereiro de 2025. Disponível em: https://geocracia.com/georisk-mais-uma-tecnologia-ou-solucao-definitiva-para-deslizamentos-de-terra/ Acesso em: 02 mar. 2025.

 
 
 

Dra. Maria Rossi

(Ensaio)


A sociedade é um organismo dinâmico, composto por relações sociais, normas, valores e estruturas materiais. Frequentemente, o senso comum a percebe como algo estável, onde as pessoas apenas seguem regras e costumes. No entanto, a sociologia nos convida a olhar além dessa visão simplificada e a compreender as forças que moldam a vida em sociedade.


O que define a Sociedade?


A sociedade não é apenas um conjunto de indivíduos, mas uma rede complexa de relações entrelaçadas por normas, valores e instituições. De acordo com Anthony Giddens (1984), as estruturas sociais são ao mesmo tempo meio e resultado das ações humanas, criando um ciclo contínuo de reprodução e transformação social. Assim, entender a sociedade exige analisar tanto as instituições que regulam a vida coletiva quanto as formas de resistência e mudança que emergem dentro delas.


Relações Sociais e Organização Coletiva


As relações sociais representam as interações diárias entre indivíduos e grupos, estruturadas por normas e valores compartilhados. Essas interações moldam padrões de comportamento que se refletem em instituições como escolas, empresas e famílias. Conforme Michel Foucault (2000), o poder permeia todas as esferas sociais, influenciando como as pessoas interagem e se organizam.


A organização coletiva surge dessas interações e se manifesta por meio de hierarquias, formas de cooperação e conflitos. Em um ambiente de trabalho, por exemplo, há relações de poder entre gestores e funcionários, que determinam dinâmicas de controle e colaboração. Ao mesmo tempo, essas estruturas não são fixas: trabalhadores podem contestá-las, criar redes de apoio e provocar mudanças.


O papel dos recursos e da infraestrutura


Os recursos naturais e econômicos são a base material da sociedade, influenciando desde a distribuição de bens até as relações de poder. Para Karl Marx (2010) o controle sobre esses recursos define a estrutura de classes e as desigualdades sociais. Da mesma forma, a infraestrutura e a tecnologia desempenham papel extremamente essencial hoje, possibilitando avanços na comunicação, na produção e no transporte.


A urbanização e a moradia são outros elementos fundamentais. O crescimento desordenado das cidades pode gerar desigualdades espaciais, com áreas carentes de infraestrutura básica, enquanto iniciativas governamentais, como programas habitacionais, objetivam minimizar esses impactos. Isso acontece de fato? Ou estamos muito aquém de conseguir transformações reais que possam reduzir desigualdades garantindo justiça e equidade social?


A cultura, as normas e os valores construídos ao longo do tempo


A cultura é um dos elementos centrais da vida em sociedade, refletindo identidades e relações de poder. Segundo Antonio Gramsci (2008), a hegemonia cultural é uma forma de dominação que legitima determinadas estruturas sociais. Ao mesmo tempo, a cultura é um espaço de resistência, onde tradições, festivais e práticas cotidianas desafiam narrativas dominantes e criam novas formas de pertencimento. Também explicitam contradições e formas diversas de se pensar e viver.


Normas e regras sociais regulam o comportamento dos indivíduos, mas não são neutras. Michel Foucault (2000) argumenta que essas normas moldam subjetividades e produzem formas de controle. Entretanto, essas regras também podem ser contestadas, como demonstram os movimentos sociais que lutam por direitos e justiça social.


O material e o simbólico: uma relação indissociável


Os aspectos materiais e simbólicos da sociedade estão interligados. O dinheiro, por exemplo, tem um valor material, mas sua real importância deriva do significado simbólico que lhe atribuímos: poder, status e segurança. Da mesma forma, a tecnologia não é apenas um conjunto de ferramentas, mas um elemento que redefine identidades, relações de trabalho e dinâmicas sociais.


Redes sociais, mudanças climáticas e transformações no mercado de trabalho são exemplos contemporâneos dessa interseção. O avanço da economia digital, por exemplo, altera tanto a estrutura produtiva quanto a percepção do que é trabalho digno. Movimentos sociais, por sua vez, questionam valores estabelecidos, promovendo novas formas de organização e resistência.


Considerações Finais


É urgente repensarmos a forma com vivemos em sociedade. Compreender a sociedade exige ir além das aparências e analisar criticamente suas estruturas e dinâmicas. A relação entre aspectos materiais e simbólicos é essencial para entender como as desigualdades são reproduzidas – e como podem ser transformadas. Ao refletirmos sobre essas questões, abrimos caminhos para uma sociedade mais justa e consciente de suas contradições e possibilidades de mudança.


Referências

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Petrópolis: Vozes, 2000.

GIDDENS, Anthony. The Constitution of Society: Outline of the Theory of Structuration. Berkeley: University of California Press, 1984.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. São Paulo: Boitempo Editorial, 2008.

MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Volume I. São Paulo: Boitempo Editorial, 2010.

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Me. Jéssica Novaes

Dr. Marcos Mattedi

Dr. Maiko Siepss


O mapeamento da distribuição das Favelas e Comunidades Urbanas (FCUs) em Blumenau-SC, baseado nos dados publicados pelo IBGE no dia 08/11/2024, revela uma forte correlação entre vulnerabilidade social e vulnerabilidade ambiental. A análise geoespacial elaborada considerou a densidade populacional, densidade edilícia, e a alocação das FCUs em áreas suscetíveis a desastres, como enchentes e movimentos de massa. Os resultados indicam que as FCUs mais populosas estão concentradas nas regiões centrais da cidade, onde há maior proximidade com os serviços urbanos, mas também suscetibilidade a enchentes.  No entanto, em números absolutos, a maior parte das FCUs está alocada nos morros estão em áreas de alta declividade, caracterizadas por maior exposição a movimentos de massa. Assim, observa-se que a periferia, onde encontram-se a maior parte das FCUs, está mais exposta perigos relacionados à instabilidade do terreno, do que propriamente às enchentes. 

Fonte; FUCS - IBGE (2024)
Fonte; FUCS - IBGE (2024)

A vulnerabilidade aos movimentos de massa é ainda mais complexa que a vulnerabilidade às enchentes. No caso dos movimentos de massa, os desastres tendem a ser abruptos, enquanto as enchentes embora também levem a grandes perdas materiais, e por vezes humanas, acontecem de forma gradual. O estudo da declividade confirma que as FCUs estão predominantemente localizadas em regiões com maior inclinação, apontando para uma segregação socioespacial que reserva as áreas planas e menos suscetíveis a desastres para os moradores de maior renda. Tal cenário destaca o papel do planejamento urbano na perpetuação das desigualdades socioespaciais. A vulnerabilidade social das FCUs de Blumenau é agravada pela sua localização. Logo, a integração de políticas públicas que priorizem a redução de riscos, a reestruturação habitacional e a inclusão social tornam-se essenciais para mitigar os impactos dos desastres. 

Por fim, a análise das densidades demográfica e edilícia das FCUs destaca que áreas de maior densidade populacional são acompanhadas por densidades edilícias igualmente elevadas, sugerindo um adensamento crítico que agrava a precariedade habitacional. Outro agravante ao risco de desastres, em especial em áreas cuja suscetibilidade a movimentos de massa é alta, é a inadequação das técnicas construtivas, como o uso de fundações subdimensionadas, e falta de contenções e drenagem adequada. Essas condições reforçam a relação intrínseca entre vulnerabilidade social e ambiental, já que a exposição aos desastres é ampliada pela inadequação das infraestruturas urbanas.

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Nota Técnica: Em nível nacional, a segregação econômica (concentração de renda) resulta na segregação espacial (favelização). Localmente, em Blumenau, essa segregação se agrava pela ocupação de áreas de risco - terrenos com alta declividade (suscetíveis a movimentos de massa) ou planícies alagáveis (expostas a enchentes) - por populações de baixa renda: A vulnerabilidade social é potencializada pela vulnerabilidade ambiental.


Referências


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Plataforma Geográfica Interativa – Censo 2022. Disponível em: https://censo2022.ibge.gov.br/apps/pgi/#/mapa/. Acesso em: 3 fev. 2025.


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Serviço WMS do Censo 2022. Disponível em: https://geoservicoscenso2022.ibge.gov.br/geoserver/ows?service=WMS&layers=base:qg_2022_670_fcu_agreg. Acesso em: 3 fev. 2025.


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Malhas territoriais. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/geociencias/organizacao-do-territorio/malhas-territoriais.html. Acesso em: 3 fev. 2025.


Serviço Geológico do Brasil (SGB). Cartas de Suscetibilidade a Movimentos Gravitacionais de Massa e Inundações. Disponível em: https://www.sgb.gov.br/cartas-de-suscetibilidade. Acesso em: 3 fev. 2025.

 

 
 
 
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