- 16 de jun. de 2020
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Atualizado: 16 de jun. de 2020
No infográfico você poderá acompanhar a evolução dos casos confirmados, por data de início dos sintomas, de 28/02 até 15/06. São exibidas as 25 cidades com maior número de casos.


Atualizado: 16 de jun. de 2020
No infográfico você poderá acompanhar a evolução dos casos confirmados, por data de início dos sintomas, de 28/02 até 15/06. São exibidas as 25 cidades com maior número de casos.
Dr M. Mattedi
Universidade Regional de Blumenau
Mesmo assistindo o aumento do contágio pelo coronavírus, iniciou-se em todo Brasil retorno das atividades educacionais. Este processo é condicionado por dois fatores que se encontram relacionados: a) não é possível retomar as atividades econômicas sem retomar as atividades educacionais; b) a manutenção do isolamento pode acabar comprometendo o ano letivo. Assim, a retomada parece precoce, pois o momento atual exigiria, inversamente, mais rigor no Distanciamento Social. Porém, atualmente não existem condições políticas de implementar medidas de proteção social mais amplas que garantam o isolamento da população.
As atividades educacionais foram as primeiras a serem desativadas. Isto aconteceu, por um lado, porque as atividades educacionais são intensivas em contato direto; por outro, porque, frequentemente, são efetuadas em ambientes fechados. Afinal, alunos e professores são vetores diretos de contágio (transportam vírus de casa para sala de aula e da sala de aula para casa); mas também porque são organizações mais simples de serem desativadas (não constituem atividades essenciais). Como aconteceu em outras atividades é bem possível que a retomada das atividades educacionais acabe intensificando o aumento de contágio.
Isto acontece porque a retomada das aulas presenciais aumenta a frequência de relações sócias diretas. Afinal, implica, simultaneamente, ocupação de espaços fechados e também da formação de aglomerações. Além disso, a maioria dos ambientes educacionais não foram pensados para situações de Distanciamento Social. Assim, significa que se deve considerar a possibilidade de desencadear novos ciclos de transmissão comunitária do Coronavírus. Este processo implica novos fechamentos temporários do campus. Neste sentido, a questão principal da Abertura do Campus é como evitar que alunos e professores se tornem vetores de transmissão da COVID-19.
A resposta tem sido o estabelecimento de protocolos de segurança. Isto implica criar condições para ensinar e aprender e, consequentemente, trabalhar da maneira mais segura. A COVID-19 é um novo fator de risco que deve ser incorporado nas avaliações de risco no local dos ambientes de trabalho. Como parte do processo de abertura é necessário produzir avaliações de risco para os ambientes de estudo e comunitário. Assim, pressupõe compartilhar a avaliação de risco com os alunos e professores e considerar publicar a avaliação de risco em seu site. Afinal, as universidades não podem perder a confiança dos alunos e das famílias. Entre as principais medidas destacam-se:
a) Uso obrigatório de máscaras nas dependências da universidade;
b) Horários diferentes para entrada e saída dos alunos;
c) Horários diferenciados para o lanche;
d) Aferição da temperatura dos estudantes ao entrar na escola;
e) Desinfecção dos calçados e mochilas;
f) Distanciamento entre os estudantes dentro e fora da sala de aula;
g) Sinalização de rotas para que os alunos mantenham distância entre si;
h) Manutenção do ensino híbrido.
Estes protocolos são longos e vão acabar modificando profundamente o ambiente acadêmico. Por isto, não se pode chamar a Abertura do Campus de retorno. As experiências prévias de outros países e a literatura científica especializada apontam que o retorno às atividades presenciais não será como a volta de um recesso tradicional. Isto significa que o ambiente acadêmico será completamente modificado pelos protocolos de segurança. E, sobretudo, os protocolos de segurança afetarão a forma convencional de aprender conjuntamente. Afinal, até que não chegar a imunização seremos obrigados a conviver com o risco.
Neste sentido, com a FURB a situação não é muito diferente. Afinal, as universidades se transformaram num ambiente de risco. Por isto, será necessário o estabelecimento de comitês internos de monitoramento em tempo real nas universidades. Quando retornarmos às salas de aula e aos campi, não retornaremos aos padrões de relacionamento familiares. Portanto, o cuidado e a atenção constante modificarão profundamente as atividades acadêmicas e a forma como o conhecimento é produzido, transmitido e repassado. Este processo pressupõe a consideração de dois fenômenos principais: a) a Recessão Social; b) a Fadiga Digital.
a) Recessão Social: a longa duração do Distanciamento Social tem efeitos profundos sobre a dinâmica em sala de aula. Afinal, depois de mais de três meses sem contatos diretos os alunos e professores pode causar sequelas de longo prazo na dinâmica acadêmica. Neste sentido, a sala de aula pode ser converter no espaço social no qual se materializem-se o medo de infeção, as incertezas financeiras, a falta de informação e ambiente doméstico tóxico. Por isto, é importante evitar que as atividades presenciais em sala aula se tornem mais um fator estressor para alunos e professores.
b) Fadiga Digital: refere-se as patologias cognitivas, emocionais e sociais desencadeadas pelo uso excessivo de plataformas on-line. Embora alguns dos campi estejam fisicamente fechados, o processo de formação continuou em andamento. Além, dos fatores negativos já conhecidos, a Fadiga Digital pode acabar saturando a capacidade de aprendizado dos alunos e a motivação dos professores. Mas estes são apenas a ponta do iceberg de um conjunto profundo de mudanças sociais. Portanto, a Fadiga Digital pode se tornar um obstáculo para as políticas de retomada das atividades educacionais.
A relação entre a Recessão Social e da Fadiga Digital pode provocar efeitos perversos. As diversas crises em curso devem afetar a saúde mental dos alunos e dos profissionais da Educação, ainda que em diferentes formas e graus. Em situações extremas tendem a provocar o aumento da ansiedade e de dificuldades de concentração. Este processo pode gerar dificuldades convivência escolar no retorno às aulas como, por exemplo, aumento de conflitos entre os professores e comportamentos agressivos entre os alunos. Portanto, a mescla de atividades presenciais e mediadas por tecnologia pode, ao mesmo tempo, criar o pior dos mundos: desmotivar professores e alunos.
Figura 1: contexto de abertura dos campi

Mas, ao mesmo tempo, apesar dos desafios e incertezas, as universidades podem servir de experimentação para o processo de abertura. Este processo envolve a consideração de dois conjuntos de fatores: a) Emocional: criação mecanismo de acolhimento de alunos em situação de stress (ação intersetorial); b) Financeira: a criação de um fundo de ajuda para estudantes por meio de doações (isto pressupõe uma boa campanha de marketing para sensibilizar os ex-alunos); c) Treinamento: o estabelecimento de treinamento de segurança obrigatório sobre o convívio durante a COVID-19. Este processo incluiu e deverá continuando a incluir contribuições de vários grupos.
Portanto, a Abertura do Campus não será uma retomada de quando foi fechado. Afinal, o campus se parecerá mais com um hospital que com uma universidade. Por isto, o retorno das atividades acadêmicas exigirá um plano de ações em diversas frentes. Este processo implicará uma articulação intersetorial intensa e uma contextualização regional precisa. Neste sentido, se o Fechamento do Campus aconteceu sem grandes implicações institucionais, a Abertura do Campus exigirá atenção redobrada. Trata-se, portanto, de mudanças que exigirão muito trabalho, criatividade e recursos. Afinal, é importante lembrar que as universidades estão sempre mudando.
Prof. Dr. Maiko Rafael Spiess
A pandemia e as práticas de distanciamento social trouxeram mudanças significativas nos padrões de uso do tempo e da percepção de sua passagem. No curto prazo e na esfera privada, por exemplo, se percebem mudanças contraditórias: os deslocamentos e saídas diárias diminuem, mas as interações digitais se intensificam e ocupam a maioria do tempo eventualmente liberado. As condições impostas pela pandemia permitiram a compressão de certas atividades no tempo, mas também a aceleração ou aumento da quantidade de diferentes atividades realizadas. Paradoxalmente, temos mais tempo utilizável e menos tempo livre.
No médio e longo prazo, o ineditismo das condições de vida na pandemia implicou em um alto grau de incerteza e indefinição. Qual a duração de uma pandemia? Quanto tempo é necessário para uma “quarentena”? Essas incertezas e contradições impactam as políticas públicas de combate ao coronavírus e levam a resultados ambíguos. Sobretudo, porque quanto mais tempo passamos em uma situação de excepcionalidade, mais rapidamente queremos voltar para a normalidade. No entanto, existe uma forte incompatibilidade entre a conclusão desejada e a conclusão real da crise (Figura 1).
Figura 1: Conclusão desejada x conclusão real

Em uma análise anterior, já discutimos os efeitos dessas duas temporalidades distintas nos processos de ensino e aprendizagem. Mais recentemente, os resultados da segunda rodada de pesquisa com os estudantes nos permitem aprofundar algumas observações e descrever mais claramente a percepção de uma parte da comunidade universitária sobre os tempos da pandemia e do isolamento social. Esta reflexão é importante, pois no âmbito local e estadual se acumulam sinais do retorno gradual das atividades educacionais e, portanto, diferentes impactos possíveis para a comunidade universitária se anunciam.
Inicialmente, é necessário considerar as condições atuais do uso do tempo dos estudantes. Nesta dimensão, é possível observar uma tendência de crescimento do tempo dedicado ao uso de Internet e, assim, das atividades remotas – sejam elas educacionais, afetivas, comerciais etc. Em comparação com a primeira rodada de pesquisa, é possível observar que o percentual de estudantes que afirmam usar a Internet mais de 8 horas diárias cresceu de 37,1% para 43,52%. Na faixa de 6 a 8 horas diárias, subiu de 23,4% para 27,46%. No caso das faixas de tempo de até 6 horas diárias, se observou uma queda geral de 10,48% (Gráfico Interativo 1, abaixo).
Gráfico Interativo 1
Este aumento observado no uso de Internet pode ter um efeito ambivalente: por um lado, pode consolidar a rotinização das aulas mediadas por tecnologias e, em conjunto com a sensação de medo do contágio, gerar uma tendência à continuidade das atividades remotas; por outro lado, pode implicar um processo de fadiga ou saturação digital que amplificaria a disposição ao retorno às aulas presenciais. Nesta segunda hipótese, é necessário investigar se a receptividade ao retorno das atividades presenciais (e, assim, o aumento da exposição ao risco) não será desproporcionalmente inflada pelo efeito contínuo da exposição digital.
Nesse sentido, as condições para o isolamento social e perspectivas dos estudantes sobre sua continuidade fornecem indícios importantes. Do ponto de vista da rotina de saídas, na segunda rodada de perguntas 19,86% declaram estar completamente isolados e 76,68% afirmam sair apenas quando é inevitável. O percentual de estudantes em isolamento total caiu em comparação com a primeira rodada, mas isso pode se relacionar com o cenário de reabertura gradual e a dificuldade de manutenção do isolamento no médio prazo. Em geral, no entanto, a adesão ao distanciamento social é alta, mesmo considerando diferentes perfis (Gráfico Interativo 2).
Gráfico Interativo 2
Quando considerado o tempo total transcorrido desde o início do isolamento social, foi possível verificar que, na época da coleta de dados, a maioria dos participantes estava mantendo alguma forma de distanciamento social há mais de 30 dias (83,94%). Em sentido oposto, 9,15% não estavam isolados e apenas 1,73% estavam isolados por um período menor do que 15 dias (Gráfico Interativo 3). Por um lado, isso indica uma predisposição dos estudantes a adotar as medidas de distanciamento para contenção da COVID. Por outro lado, quando mais longo o distanciamento, possivelmente mais difícil é mantê-lo.
Gráfico Interativo 3
Assim, é fundamental considerar os dados sobre a quantidade de tempo que os estudantes estavam dispostos a continuar em isolamento. Neste aspecto, as respostas indicam uma projeção ou propensão para permanecer em isolamento por períodos relativamente longos: 35,75% afirmaram estar dispostos a permanecer em isolamento por mais 6 meses, 34,89% por até 3 meses e 24,53% por mais um mês. Apenas 2,76% não pretendiam prolongar as ações de isolamento. As relações entre o tempo transcorrido e a projeção para a continuidade do isolamento podem ser visualizadas detalhadamente no Gráfico Interativo 4 (abaixo).
Gráfico Interativo 4
É claro que as condições sociais e a propensão individual para continuar com o isolamento se alteram ao longo do tempo. Os efeitos socioeconômicos na renda familiar, por exemplo, podem aumentar a propensão à circulação. Em um sentido semelhante, as alterações e permissões dadas por decretos e outros atos oficiais podem aumentar a pressão pelo fim do isolamento. No entanto, devemos estar atentos aos efeitos individuais de soluções gerais. A aversão individual ao risco não pode ser prejudicada pelas tendências institucionais.
Em termos práticos, para a FURB isso significa ter que considerar cuidadosamente os procedimentos para o retorno das atividades. É certo que uma retomada excessivamente adiada possui implicações importantes, como a ameaça da evasão e impactos na sustentabilidade econômica. Todavia, uma retomada muito rápida das atividades presenciais pode alienar a parcela significativa de estudantes – aqueles que indicam disposição em manter por mais tempo as medidas de isolamento – e também ocasionar evasão ou queda no interesse pelas aulas. Além disso, é necessário considerar estudantes e servidores que possuem um perfil de risco.
Resumidamente, ao considerar a Reversão do Distanciamento Social, é preciso equalizar os diferentes tempos da instituição, servidores e estudantes. Vale lembrar que, por um lado, estamos todos mais ou menos influenciados por forças de aceleração desta reversão, como a saturação causada pelas práticas digitais e imposições de ordem econômica; por outro, estamos sujeitos também a processos de desaceleração ou dissuasão, como a continuidade do aumento de casos e das mortes causadas pela COVID-19. Como estes efeitos operam de forma distinta para diferentes pessoas, é muito provável que soluções gerais acabem por gerar conflitos.