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  • 13 de mai. de 2020
  • 4 min de leitura

Dr. M. MATTEDI

Universidade Regional de Blumenau


Fazer previsões é uma atividade social muito comum. Por isto, a medida que o pico da pandemia vai passando no Leste Asiático, Europa e América do Norte começam a surgir questões sobre a Pós-COVID-19. É que por onde quer a COVID-19 passe acaba deixando traços sanitários, sociais, políticos, econômicos e ambientais profundos. Isto significa, que de uma forma ou de outra, a COVID-19 mostra que as coisas podem ser diferentes do que elas são. Assim, as expectativas são saber se dentro de algumas semanas nossas vidas voltarão a ser como eram antes. E é por isto também que a Pós-COVID-19 é ainda mais importante que a própria COVID-19.


A COVID-19 afetou profundamente o nosso modo de vida. O padrão predominante de confrontação compreende, sem dúvida, uma experimentação social sem precedentes. A forma como desativamos as interações sociais diretas e ativamos as interações sociais indiretas indica a plasticidade e, sobretudo, a contingência da vida social. Assim, uma coisa é prever a mudança de costumes, outra é a dinâmica da atividade econômica no próximo trimestre, outra ainda é a criação de um aplicativo de rastreamento de pessoas em tempo real. Portanto, quando examinamos as tendências Pós-COVID-19, precisamos perguntar: estamos preparados para aceitar novas mudanças sociais?


Por isto, para pensar a Pós-COVID-19 é preciso considerar o processo de mudança social. O processo de mudança social constitui um dos maiores mistérios sociológicos. Apesar de mais de cento e cinquenta anos de conhecimentos acumulados ainda não existe ainda um consenso de porque os contextos sociais mudam. O que se sabe é que o processo de mudança social e, consequentemente, da ordem social, se estabelece por meio de uma relação entre o plano individual (micro = preferências/esquemas) e o plano subjetivo (macro = recursos/regras): algum tipo de ligação que leva da sociedade ao indivíduo, e o indivíduo à sociedade.


Neste sentido, quando se projetam os cenários Pós-COVID-19 é preciso considerar simultaneamente a relação entre o plano individual e o plano coletivo. Estes planos sociais estão relacionados as escalas de espaço e tempo. Neste sentido, as mudanças sociais podem ser concebidas numa escala social global envolvendo todo espaço terrestre; mas também pode ser considerada numa escala intermediária de um setor específico como, por exemplo, o setor econômico; ou pode também se considerada na dimensão das atitudes dos indivíduos. Considerando estes fatores a projeção dos cenários Pós-COVID-19 envolvem as dimensões macro, meso e micro (Figura 1).


a) Cenário Macro: civilizacional. Refere-se as projeções que contemplam a sociedade como um todo. Frequentemente operam dentro de uma dicotomia que opõe fatores positivos (bem) e fatores negativos (mal). Existem muitas projeções neste sentido, mas talvez a mais conhecida tenha sido proposta por Yuval Noah Harari. Neste sentido, na batalha contra a COVD-19 existem duas forças operando conjuntamente: de um lado, operam as forças do fechamento e do controle; de outro, as forças de abertura e de informação. Portanto, as mudanças Pós-COVID-19 pode ser isolamento e desconfiança, ou união e confiança.


b) Cenário Meso: setorial. Este tipo de previsão diz respeito a dinâmica de funcionamento de um subsistema específico. Por exemplo, por quanto tempo a economia mundial ficará deprimida ou ainda a possibilidade de colapso financeira. Nossa tentativa desesperada de manter o vírus a distância, reduziu o consumo, a redução do consumo paralisa a produção, a paralização da produção provoca a demissão de trabalhadores, este processo faz cair a arrecadação, orçamentos estouram. Trata-se, nesta escala, de prever a dinâmica do setor econômico no próximo trimestre pelo acompanhamento de indicadores.


c) Cenário Micro: existencial. Esta escala de mudança diz respeito ao processo de mudanças na dimensão individual. A maior parte dos cenários projetados na escala micro se referem ao que é conhecido como Novo Normal. Tratam-se, neste sentido, de efeitos emergentes provocadas pelo processo de Recessão Social como, por exemplo, manter uma distância de segurança, lavar as mãos; mas também, situações mais insólitas como maior vigilância biométrica, calçadas de mão única, escudos faciais de nível médico no cinema, roupas esterilizáveis ​​à prova de vírus e corpos para permitir “socializar sem distanciar”.


Figura 1 – Escala da mudança social

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Isto significa que o estabelecimento de cenários envolve a questão da precisão mudança social. Quanto mais ampla a escala de projeção mais fracos os sinais (baixa resolução empírica = pouca precisão); e, inversamente, quanto mais restrita a escala micro mais fortes os sinais (alta resolução empírica = muita precisão). Assim, ou priorizamos uma grande abrangência, mas com baixa ou média precisão; ou, ao contrário, tomamos a escala micro com alta resolução, mas com pouca abrangência. Portanto, o desafio metodológico da projeção de cenários Pós-COVID-19 é: ou projetamos muito de forma incerta, ou projetamos pouco de forma precisa.


Além disso, a construção de cenários está relacionada não somente com a abrangência social, mas também com a intensidade e densidade das mudanças sociais induzidas pela COVID-19. Isto envolve, ao mesmo tempo, a consideração do tempo necessário para o acionamento e da duração das mudanças sociais. Assim, temos mudanças que são facilmente acionadas, mas também facilmente desligadas; e mudanças que são difíceis de serem acionadas e desligadas. Portanto, nos cenários Pós-COVID-19 é preciso diferenciar também o que são realmente novas tendências, de tendências que já estavam anteriormente incubadas socialmente.


Figura 2 – Escala da mudança social

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Portanto, neste contexto é muito fácil confundir as escalas/forças e supor que o nosso contexto social está se dissolvendo. E, consequentemente, que estamos diante de uma espécie de Pontal Social que nos conduz a um “novo começo”, quando na realidade trata-se apenas de poeira cognitiva levantada pelo Surto Informacional. Afinal, não podemos subestimar a força inercial (homeostase da vida social) dos contextos sociais. Mesmo numa época como a nossa as sociedades são mais propensas ordem que a mudanças social. Assim, é mais plausível supor na validade do Princípio de Continuidade. O que encontraremos na Pós-COVID-19 já está incubado socialmente.


Por isto, se equivocar é socialmente tão comum quanto fazer previsões. Afinal, a muito sabíamos do risco sistêmico de uma pandemia, porém ninguém conseguiu prever exatamente a emergência da COVID-19. Isto acontece porque nenhuma sociedade é capaz de controlar os tipos de perturbações que pode sofrer no período Pós-COVID-19. É isto que acontece com as tendências: é muito difícil, senão impossível, saber exatamente o momento e o formato da curva de sino que a maioria das mudanças sociais ocorrem. Como somos incapazes de imaginar e prever exatamente as mudanças sociais, a contingência é uma propriedade constituinte do mundo social.

 
 
 
  • 11 de mai. de 2020
  • 4 min de leitura

Prof. Dr. Maiko Rafael Spiess

mspiess@furb.br

As medidas emergenciais para combater a COVID-19 induziram mudanças significativas na rotina de uma grande parcela da população mundial. Uma dessas mudanças é a dupla tendência de diminuição (voluntária ou compulsória) do volume e intensidade dos contatos presenciais e da correspondente intensificação das interações digitais mediadas por tecnologias. De um lado, portanto, temos um processo de Recessão Social; de outro, temos a Inflação Digital e uma possível subsequente Fadiga Digital. A compreensão desses fenômenos é muito importante para avaliar os impactos das medidas de combate à pandemia na vida social.

A Inflação Digital pode ser compreendida como o crescimento do volume de comunicações mediadas eletronicamente. Esse processo vem ocorrendo desde a popularização da Internet comercial, nos anos 1990, mas se acelerou com as mudanças dadas pelo isolamento social durante a pandemia de COVID-19. Dados a respeito do uso de Internet apontam para um crescimento do tráfego de dados no mundo e no Brasil desde o início da pandemia. Em pesquisa realizada recentemente, 77,1% dos estudantes da FURB afirmaram que a quantidade de horas diárias de uso de Internet cresceu, confirmando a tendência no nível local.


Gráfico 1 – Crescimento e redução globais do uso de websites e apps durante a pandemia

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Algumas das consequências do aumento do uso de Internet e equipamentos eletrônicos vão sendo percebidas aos poucos. Por exemplo, dados indicam que houve um aumento no uso de computadores pessoais e uma pequena queda no uso dos apps em smartphones (Gráfico 1). Também começam a surgir estudos sobre os efeitos neurológicos e psicológicos do aumento das teleconferências – a fadiga de Zoom (o termo remete ao nome de um popular aplicativo de vídeo chamadas). Neste caso, as análises indicam que o esforço do cérebro para compensar a ausência de sinais não-verbais da comunicação presencial é um dos principais fatores de estresse e cansaço.

Sociologicamente, porém, podemos compreender que a Fadiga Digital é um processo mais amplo. Ou seja, não pode ser compreendido apenas pelo contexto do uso das tecnologias e seus efeitos psicológicos individuais. Na verdade, é possível identificar vários aspectos estruturais e macrossociais que estão em operação e que, potencialmente, se intensificam ao longo do processo de isolamento social. Mais precisamente, podemos relacionar a Fadiga Digital com processos como:

- mudanças nas estruturas temporais (uso e percepção do tempo): em particular, é preciso considerar a experiência ambivalente de vivenciar simultaneamente fluxos curtos e rápidos (característicos da comunicação eletrônica) e longos e lentos (típicos da evolução da pandemia e das políticas para seu combate).

- sobreposição das atividades profissionais, educacionais e afetivas no espaço doméstico: ou seja, o aumento da dificuldade de separação do espaço público e privado, ou mais precisamente, as condições adequadas para a alternância dos papéis profissionais, familiares e afetivos, gerando possíveis conflitos de papéis e atribuições.

- aumento da circulação de informações e o surto infodêmico: o baixo custo para a produção e circulação de informações (tanto verdadeiras quanto falsas ou incorretas) nos coloca em um estado constante de atenção e reação, que se retroalimenta com a interação com outras pessoas, o efeito rumor e a sobrecarga informacional amplificados pelas mídias sociais.

Assim, podemos supor que alguns tipos de contatos sociais se tornam mais comuns, enquanto outros declinam. Portanto, quanto mais tempo passamos em isolamento, mais estamos propensos a sentir a Fadiga Digital. Logo, se no início do distanciamento social ampliamos o volume e a intensidade das interações eletrônicas para compensar as mudanças na rotina, gradualmente os impactos individuais e coletivos da Inflação Digital parecem favorecer a transição para as fases de irritação e desativação do engajamento social com as medidas de isolamento.

Figura 1: Inflação Digital e Recessão Social

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Também é necessário observar que a Fadiga Digital atinge diferentes perfis socioeconômicos de formas distintas: algumas profissões podem estar mais adaptadas à mudança do que outras; classes médias que já estão mais familiarizadas com a cultura digital serão menos afetadas do que as classes baixas, que estão menos integradas em um mundo mediado tecnologicamente; gerações mais jovens podem sentir seus efeitos de forma mais branda, enquanto pessoas mais velhas sentem com maior intensidade o cansaço decorrente das formas on-line de interação. Nesse sentido, a Fadiga Digital potencializa assimetrias sociais previamente existentes.

Quadro 1: Matriz de Capacidade de adaptação x Intensidade do uso

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Nesta direção, a propensão para a Fadiga Digital durante a COVID-19 pode ser medida pela relação entre a Intensidade do uso (contexto social, compromissos etc.) e a Capacidade de adaptação (disposições e habilidades individuais). No caso específico de pessoas com poucas condições de conversão para a sociabilidade digital e pouca capacidade de adaptação, a Inflação Digital pode implicar em um processo de exclusão dada pela incapacidade de integração. Nas demais situações, a intensidade do esgotamento com os meios de interação digitais pode variar e, dessa forma, ser menos ou mais significativo durante a experiência do distanciamento.

Em resumo, essas questões e ressalvas explicitam os limites da adoção da interação online durante e após a pandemia. Afinal, para muitas pessoas os processos de Inflação Digital podem gerar um estresse significativo e até mesmo a exclusão de novas formas de sociabilidade. No entanto, mesmo nos casos de não-exclusão, a Fadiga Digital pode diminuir a qualidade de vida e bem-estar psicológico das pessoas. Logo, é possível que venhamos a observar em algumas áreas uma retração ou perda de interesse pelas atividades online, e uma busca pelo incremento das interações presenciais.

Portanto, a Fadiga Digital pode se tornar um obstáculo para as políticas de isolamento e contenção da pandemia. Em outras palavras: somada a outros fatores de desmobilização como o uso político da crise ou imposições econômicas e de renda, a Fadiga Digital pode contribuir para a gradual insustentabilidade do isolamento para certos perfis sociais, pois afinal diminui a capacidade de resiliência durante a emergência. Assim, é importante que se procure dosar possíveis excessos no incremento das atividades online, resguardando os indivíduos do estresse decorrente da necessidade de adaptação às interações remotas.

Finalmente, devemos considerar que alguns dos hábitos e formas de interação digitais possam ganhar um caráter de irreversibilidade. Ou seja, é possível que em vários setores produtivos e áreas da vida o aumento da produtividade e o trade-off entre distanciamento e segurança façam com que relações mediadas digitalmente se tornem procedimentos rotinizados e institucionalizados. Isso indica que a Fadiga Digital poderá persistir - em alguns setores e para algumas pessoas - após o fim ou desaceleração da emergência pandêmica. Dessa forma, é ainda mais necessário acompanhar atentamente os diversos efeitos possíveis do fenômeno.

 
 
 

Dr M. MATTEDI

Universidade Regional de Blumenau


Em muitas regiões grande parte das atividades econômicas foram suspensas. Na melhor das hipóteses permanecerão assim por todo este trimestre. Mesmo com a perspectiva de uma retomada da atividade durante a segunda metade do ano, a economia mundial aponta inevitavelmente, para uma recessão este ano. Porém, o impacto da crise da COVID-19 também é diferenciado nos países, com algumas regiões e cidades sendo mais atingidas do que outras. Neste sentido, a escala da crise está intimamente ligada a intensidade da onda de contágio e à maneira como as medidas de contenção foram ativadas e desativadas em cada região.


Afinal, a COVID-19 afetou diretamente o padrão predominante de desenvolvimento socioeconômico. A submissão de milhões de pessoas ao Distanciamento Social acabou isolando cidades e regiões inteiras. O isolamento paralisou a atividade econômica, interrompendo muitas cadeias de consumo e produção. Esta interrupção vem impactando diretamente o Desenvolvimento Regional, não somente em termos negativos como emprego e a arrecadação, mas também em termos positivos como meio ambiente e mobilidade urbana. Neste sentido, a COVID-19 representa, ao mesmo tempo, uma ameaça e uma oportunidade para o desenvolvimento de muitas regiões.


Para entender este processo precisamos primeiro considerar os custos da COVID-19. Os custos da COVID-19 são muitos difíceis de serem estimados. Afinal, vidas, medos, angústias e todos os sofrimentos não podem ser razoavelmente quantificados. É que não existe equivalência de mercado que possa servir de base para comparação monetária para o sofrimento. Porém, as experiências aprendidas da economia dos desastres oferecem alguns insights que podem nos auxiliar a avançar algumas hipóteses. Neste sentido, partindo apenas das perdas tangíveis é possível diferenciar dois conjuntos de impactos: a) Custos Diretos; b) Custos Indiretos.


a) Custos Diretos: Os custos diretos dizem respeito aos impactos de curto prazo. Neste sentido, é possível diferenciar dois conjuntos principais: 1) Saúde: cuidados médicos vinculados à detecção ou tratamento da doença; 2) Produtividade: os dias de licença médica. Neste sentido, envolve a determinação das condições e da duração da hospitalização de uma pessoa infectada. Assim, se o tratamento é curto os custos de hospitalização são baixos. Mas, a COVID-19 pode ser também um gargalo nos serviços de saúde. Afinal, a preocupação dos cidadãos os leva a ir aos serviços de emergência, às vezes desnecessariamente.


b) Custos indiretos: os custos indiretos são mais difíceis de medir. Dizem respeitos aos efeitos emergentes da COVID-19 a médio e longo prazo na dinâmica de desenvolvimento. Estão relacionados, principalmente, as perdas de produtividade, a paralização das atividades produtivas, doenças emergentes, evasão escolar, etc. Ou seja, trata-se assim de saber os efeitos da COVID-19 na renda, na evolução dos salários, na capacidade de redução da pobreza, na melhora das contas públicas. Assim, a COVID-19 afeta a dinâmica do PIB e, consequentemente, toda dinâmica econômica.


Considerando estes fatores pensar os impactos da COVID-19 no Desenvolvimento Regional envolve metodologicamente duas operações principais: a) medir o que foi ou pode ser afetado numa pandemia; b) estimar os efeitos sobre a dinâmica de desenvolvimento regional. Assim, se, por um lado, o impacto econômico direto dos gastos com saúde da COVID-19 tende a ser bastante limitados, principalmente, quando comparados com epidemias como, por exemplo, a AIDS ou malária; já, os custos indiretos, pelo contrário, não somente são desproporcionalmente maiores que outras pandemias e também consideravelmente mais difíceis de serem estimados.

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Por isto, os benefícios sanitários da conformidade ao Distanciamento Social a curto prazo, são inversamente proporcionais aos custos socioeconômicos a médio e longo prazo. Assim, a medida em que a contenção se estende a preocupação com a proteção da saúde se encontra com a necessidade de mitigação das consequências econômicas: a curva do contágio vai progressivamente se encontrando com a curva do desemprego. Por isto, as pessoas quando confrontadas com o risco de contaminação são contrárias ao relaxamento do Distanciamento Social; porém, quando consideram os efeitos econômicos a situação parece se inverter.


Para pensarmos os efeitos da COVID-19 precisamos considerar o Princípio de Continuidade. O Princípio de Continuidade estabelece que: as condições pré-impacto (Tempo-1) se transferem para as condições pós-impacto (Tempo-2). Neste sentido, quando pensamos o impacto da COVID-19 no Desenvolvimento Regional precisamos considerar o estado no Tempo-1 de quatro fatores principais: a) o crescimento econômico (PIB); b) o nível de emprego; c) a inflação; d) a taxa de juros. A consideração deste processo nos permite projetar quatro cenários principais: a) Cenário Pessimista; b) Cenário Otimista; c) Cenário catastrofista; d) Cenário Ufanista.


1 Cenário Pessimista: efeitos negativos temporários. Assinala que uma queda temporária e depois sugere a retomada da trajetória do PIB observada em T-1. Ou seja, não se verifica nenhuma mudança profunda de longo prazo. Neste sentido, a COVID-19 paralisa as atividades socioeconômicas, mas este processo se caracteriza por tempo determinado. A variação vai depender muito de cada região e o grau de integração nas cadeias globais de produção. Isto significa que a COVID-19 não altera significativamente o padrão o predominante de desenvolvimento regional.

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2 Cenário Otimista: efeitos negativos e positivos temporários. Indica que existem efeitos positivos e negativos operando na COVID-19 no curto prazo, mas convergindo no longo prazo. Como em outras situações de desastres a incapacidade de fornecimento de uma região é substituída por outra. Assim, a COVID-19 representa uma oportunidade de desenvolvimento na medida que nem todos os setores são afetados pela COVID-19. Isto indica que o impacto vai depender da especialização econômica da região. Portanto, o Cenário B inverte as projeções pressupostas no Cenário A.

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3 Cenário Catastrofista: efeitos negativos permanentes. Sugere que o impacto deixará a curva de crescimento abaixo da tendência, indicando que a COVID-19 terá efeitos duradouros de longo prazo. A passagem da COVID-19 por algumas regiões tem sido devastador. Isto significa que os impactos não somente são profundos, mas, sobretudo, duradouros. Consequentemente, as diferenças regionais tendem a se acentuar profundamente. Neste sentido de projeção algumas regiões jamais conseguirão retomar o estágio de desenvolvimento anterior.

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4 Cenário Ufanista: efeitos econômicos negativos de curto prazo e positivos de longo prazo. Os impactos negativos serão de curto prazo devido a capacidade de aproveitamento das oportunidades de desenvolvimento geradas pela COVID-19. Neste sentido, os efeitos da COVID-19 sobre o padrão de desenvolvimento regional são positivos porque possibilitariam um impulso. Este processo pode ser o efeito da imunidade governamental. Isto significa que algumas regiões vão acabar crescendo e se desenvolvendo com a passagem da COVID-19.

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Considerando estes cenários temos pelos menos duas certezas: a primeira que haverá um solavanco no ritmo de crescimento; a segunda que após este solavanco a economia voltará a crescer. Neste sentido, a questão é saber:


a) quanto e com que rapidez a curva vai descer?

b) quando vai subir e em que ritmo?

c) se permanecerá acima ou abaixo da tendência?


Este processo depende muito da capacidade de amortecimento e alavancagem da crise efetuados pelo Estado. Isto acontece porque todas as unidades de governo acabam estando direta ou indiretamente envolvidas na gestão. Afinal, as responsabilidades ​das medidas de contenção, como, por exemplo, assistência médica, serviços sociais, desenvolvimento econômico e investimento público são compartilhadas. Em sistemas altamente centralizados pode haver um incentivo limitado à cooperação inter-regional; assim, a existência de mecanismos eficazes de coordenação e governança é essencial para determinação dos impactos do desenvolvimento regional.


Além disso, existe um risco de intensificação do processo de concentração econômica. A queda econômica afetará profundamente as empresas menores e deixará os grandes conglomerados coorporativos em uma posição ainda mais forte. O aumento da concentração de alguns setores econômicos já era um problema antes da COVID-19, será acelerado porque as grandes empresas aumentarão seus subsídios. Portanto, embora todos sejam afetados pela passagem da COVID-19, esses efeitos não serão os mesmos de um lugar para outro. Desta forma, os impactos vão acabar fortalecendo certas regiões em detrimento de outras.


Assim, embora num primeiro momento a impressão seja de que a COVID-19 fechou a economia em todas as regiões da mesma forma, existe uma variação muito grande. Isto indica que o impacto econômico da crise também difere entre as regiões, dependendo de sua exposição ​​e as especializações setoriais. Neste sentido, as regiões que são fortemente dependentes da indústria do turismo e de cadeias globais de produção serão mais afetadas do que outras regiões. E, desta forma, dentro das regiões as áreas metropolitanas porque, geralmente, apresentam um risco relativamente maior de interrupção das atividades econômicas por suportarem as atividades de consumo.


Existe, portanto, uma variação muito grande não somete entre as regiões, mas também nas próprias regiões. Por isto, evidentemente, estes cenários não são mutuamente excludentes espacialmente. As combinações possíveis são grandes e possuem expressões territoriais muito variadas. Afinal, ao longo da passagem da COVID-19 podemos ter uma região em que se manifesta o Cenário C, enquanto outra região prisioneira de um Cenário D, e assim por diante. Neste sentido, esta variação coloca a questão da Multidimensionalidade, da Multidirecionalidade e da Multisetorialidade do desenvolvimento regional.


a) Multidimensionalidade: evoca a condição em que o Desenvolvimento Regional não pode ser reduzido apenas aos fatores econômicos, mas implica também outras dimensões, como, por exemplo, a social, ambiental, política, cultural;


b) Multidirecionalidade: a multidirecionalidade faz referência a assimetria do processo de mudança entre as diversas dimensões. Assim, o que pode representar um fator negativo do ponto de vista econômico pode ser positivo do ponto de vista ambiental;


c) Multisetorialidade: refere-se a questão dos significados que os atores atribuem ao processo de desenvolvimento. Desta forma, a crise da COVID-19 tem significações diversas em função da posição do indivíduo no processo de desenvolvimento.


Verifica-se, assim, que a crise global da COVID-19 tem uma forte dimensão territorial. Neste sentido, a passagem da COVID-19 cria uma regionalização territorial. Afinal, o impacto da crise tem sido altamente assimétrico regional e localmente. Isto acontece porque nem todas as regiões são afetadas da mesma forma. Em termos econômicos isto significa que a passagem da COVID-19 será diferente entre as regiões, dependendo de sua exposição às cadeias globais de valor e dos tipos de especialização, como o turismo. No geral, pode-se dizer, que as regiões turísticas e as regiões metropolitanas parecem estar em maior risco de interrupção do emprego do que outras regiões.


Portanto, a partir da relação entre Custos Diretos e os Custos Indiretos percebe-se que a passagem da COVID-19 apresenta uma variação transescalar e intertemporal muito grande. Em termos espaciais isto significa que existem regiões mais vulneráveis que outras; já em termos temporais algumas regiões serão afetadas antes que as outras. Entre as principais variações destacam-se aquelas impulsionadas pelo enorme setor de lazer e turismo. Porém, se desencadear a uma recessão grandes setores como a construção, manufatura, varejo, educação, alimentar serão afetados independentemente da posição espacial e temporal. Os Custos Diretos são altos, mas os Custos Indiretos são maiores.

 
 
 
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