Dr. M. MATTEDI
Universidade Regional de Blumenau
Embora as pessoas não consigam mais falar de COVID-19 e tenham cansado do Distanciamento Social o problema está se agravando. Ou seja, embora o número de postagens, memes, lives e discussões, e distanciamento venha sendo flexibilizado o número de infectado e mortos não para de crescer. Neste sentido, a sobrecarga da capacidade de atendimento já se torna evidente. Afinal, até o próprio Governo Bolsonaro foi abrigado a admitir. Neste sentido, é apenas uma questão de tempo para a situação sair do controle. Por isto, não é muito difícil de perceber, portanto, que quando mais precisamos do Distanciamento Social menor a nossa disposição.
Afinal, segundo ao levantamento do Data Folha o apoio ao Distanciamento Social está caindo. Neste sentido, verifica-se uma alta no índice de brasileiros que acham que a população está menos preocupada com o vírus. Isto acontece por que a proporção de brasileiros que defendem o retorno as atividades de pessoas fora do grupo de risco passou de 37%, (03/04), para 41% (17/04) e subiu para 46% (27/04). Inversamente, os que apoiam o isolamento amplo, caiu de 60% (03/04), para 56% (17/04) e 52% (27/04). A relação entre os dois processos é inversa assinala, portanto, a consistência da tendência de queda do apoio ao Distanciamento Social.
É por isto que atualmente nos encontramos numa situação tão angustiante. Afinal, os dados de contaminados e mortos estão subindo, mas não sabemos exatamente porque. Este processo pode ser efeito de dois fenômenos: a) Subnotificação: o aumento da testagem faz com se tenha uma melhor resolução da situação; b) Contenção: falha no processo de concepção e implementação das medidas de Distanciamento Social. Talvez, o mais provável é que seja mesmo alguma combinação dinâmica deste dois fenômenos. Porém, se uma certeza podemos ter nesta situação é de que sem boas estatísticas nunca saberemos direito o que devemos fazer.
A dinâmica deste processo revela, portanto, que no Brasil o Distanciamento Social é uma solução que se transformou num problema. Por isto, o Brasil caminha para uma situação que combina crescimento de contágio, com crescimento de óbitos. Afinal, o Governo não somente não consegue, mas, sobretudo, não quer promover políticas de Distanciamento Social. Por isto, a forma como o Brasil enfrentou a crise da COVID-19 só podem ser classificadas como um completo fracasso, tanto no processo de testagem, na interrupção das cadeias de contágio e até na contagem. Neste sentido, estamos presenciando uma espécie de Efeito Boomerang.
O Efeito Bumerangue diz respeito os efeitos inversos provocados pelas decisões. Muitas vezes é chamado também de Resultado Perverso devido as consequências não previstas provocadas por uma ação intencional. Neste sentido, o agravamento da crise é efeito perverso do Distanciamento Social. O Surto Infodêmico fez com que o Distanciamento Social fosse ativado numa etapa muito precoce da crise. Assim, com tempo a motivação e as condições de manter-se isolado foram diminuindo. Existem vários fatores que explicam o Efeito Bumerangue, porém dois parecem decisivos: a) o primeiro é o Fator Ativador; b) o segundo é o Fator Desativador.
a) Fator Ativador: Tudo leva crer que ativamos o processo de Distanciamento Social muito cedo. Mais precisamente, a mobilização da sociedade foi estabelecida fora time da onda de contágio. Neste sentido, as respostas geralmente tendem a compensar os efeitos benéficos da nova tecnologia ou de outras medidas tomadas. Assim, quando mais de atenção e cuidado, menor a disposição subjetiva e condições materiais para permanecer em Distanciamento Social. Portanto, a diminuição do Efeito Novidade acabou provocando uma queda do engajamento no período mais crítico do contágio.
b) Fator Desativador: as informações ambivalentes passada pelo Governo Federal tiveram um papel decisivo na diminuição do engajamento com o Distanciamento Social. A desinformação foi tanta que em meio a COVID-19 ouve uma troca do ministro Luiz Henrique Mandetta por Nelson Teich para indica a mudança de perspectiva com relação ao Distanciamento Social. Este processo provou uma diminuição da intensidade do engajamento com as medidas de contenção. Mas, sobretudo, é preciso considerar as consequências perversas dos pronunciamentos do Presidente Bolsonaro.
O efeito combinado do Fator Delay e do Fator Ruído dividiu a sociedade brasileira. A polarização política que caracteriza o Bolsonarismo acabou se estendendo para o Distanciamento Social. Não é por acaso, não é somente os dados do Data Folha que indicam isso, mas também uma pesquisa realizada por Rodrigo Fracalossi de Moraes do IPEA também revela este processo (Gráfico 1). Isto significa que quando o Distanciamento Social foi ativado não somente o Governo Bolsonaro não estava preparado, mas, sobretudo, não estava interessado porque representava uma ameaça que acabou produzindo uma Fadiga Social. Portanto, na base dos problemas gerados pelo Distanciamento Social encontra-se o processo de politização da gestão da crise.
O anúncio da retomada das atividades em todo país ensina que no Brasil optamos por negar a realidade. Ou seja, após as declarações do Presidente Bolsonaro passamos a achar que pensando que o vírus não existe não seremos contagiados. Assim, é difícil acreditar que no momento que a velocidade de contaminação está aumentando resolvemos intensificamos as relações sociais. Porém, não demoraremos muito para aprender que situações de emergência não toleram improviso. Afinal, escalada de casos nos últimos dias aproximam perigosamente a ocupação da capacidade máxima de atendimento dos equipamentos de saúde.
Por isto, os benefícios não compensaram as perdas com o Distanciamento Social. Ou seja, atualmente os brasileiros se encontram presos no pior dos mundos possíveis. Não conseguimos controlar a propagação do vírus e nem conseguimos ativar a economia; ao contrário, aumentamos o número de mortes e potencializamos a recessão porque a situação de emergência vai acabar durando ainda mais. Afinal, ao mesmo tempo, vai acelerar o ritmo de contágio e diminuir o ritmo de crescimento econômico. Portanto, nós, os brasileiros, perdemos duas vezes: não salvamos todas as vidas possíveis como também quebramos a economia.
O Distanciamento Social é uma solução que acabou se tornando um problema. Foi ativado e desativado em períodos inadequados, potencializando os impactos negativos da COVID-19. O interruptor político do Distanciamento Social foi ligado pela sociedade e desligado pelo governo. Assim, embora o frenesi nas mídias sociais tenha diminuído e as pessoas passeiem tranquilamente pelos shoppings a crise vai durar muito tempo ainda. Nossa capacidade de nós autoenganar é infinita, porém, dessa vez, as mortes vão aumentar e os empregos diminuir. Portanto, quem acreditava no arrefecimento das curvas de contágio e desemprego levou um coice da realidade.
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